Os
direitos do consumidor ganharam mais fôlego em 2012. Os deslizes de grandes
empresas, como Carrefour, Americanas.com e Harley-Davidson, resultaram em
investigações e até penitências severas aplicadas por órgãos de defesa do
consumidor e pela Justiça.
“Sempre
existiram entidades de defesa do consumidor, mas o tema tem ganhado mais
visibilidade no decorrer dos anos”, diz o professor da USP e da FMU Antonio
Carlos Morato, especialista em direito do consumidor. Para ele, depois de 20
anos da publicação do Código de Defesa do Consumidor, as pessoas têm mais
consciência de seus direitos e mais canais para reclamar. Além do Procon, a
população encontra espaço para reclamações nas redes sociais e na própria
imprensa. Há, portanto, uma tendência de fortalecimento dos pleitos do
consumidor.
Unidade
do Carrefour no bairro Vila Guilherme, em São Paulo, foi interditada por vender
produtos vencidos
Nesta
quarta-feira, o Procon-SP interditou pela primeira vez desde que foi criado, há
35 anos, um supermercado que supostamente vendia produtos vencidos, da rede
Carrefour. Além de permanecer com a loja do bairro Vila Guilherme, em São
Paulo, fechada por 12 horas, o Carrefour foi multado em R$ 87.680.
A
enxurrada de reclamações de consumidores sobre a campanha da Pepsi no último
fim de semana também não passou despercebida. O Procon notificou a empresa no
dia seguinte para saber como ela pretendia ressarcir os consumidores lesados. A
Harley-Davidson é outra que terá que se explicar para o Procon. Ela foi
notificada em junho por demorar em convocar sete recalls de produtos com
defeito no Brasil.
E
o Procon não foi o único órgão a assumir uma posição rígida com as empresas
neste ano. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro investigou quatro
varejistas virtuais após receber reclamações de clientes por atraso na entrega.
O caso mais grave foi o da Americanas.com, que chegou a ter as vendas suspensas
no Estado.
As
próprias agências regulatórias têm editado regras para defender os
consumidores. Recentemente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) criou
normais mais rígidas para garantir os direitos dos passageiros em caso de
atrasos e cancelamentos de voos. E a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel) fez pesquisas de opinião com clientes sobre os serviços de telefonia e
TV a cabo.
Apesar
de reconhecer que houve avanços na defesa do consumidor, o professor de Direito
da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da USP Ronaldo Porto Macedo Junior ressalta
que eles não são lineares. Segundo ele, muitas empresas optaram por resolver
problemas pontuais de consumidores que reclamam mais, mas ainda cometem
deslizes com aqueles que não prestam queixas. “O consumidor que reclama não é o
mais vulnerável. Isso acaba gerando uma hiper representação dos problemas da
população mais favorecida”, diz o professor.
Para
Macedo, as agências regulatórias passaram a ter papel fundamental na defesa dos
direitos do consumidor, apesar de não terem sido criadas para isso. “Em muitos
casos, é preciso mais do que resolver questões pontuais, mas sim de um
monitoramento constante do setor”, diz o especialista. Esse rigor maior na
fiscalização é que pode pressionar mais empresas a cumprirem as leis.
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