Depois
da enchente, os carros voltam ao mercado. Em alguns casos, como uma bomba relógio
Por:
Texto Bruna Marconi Ilustração Rodrigo Sicuro
A
temporada de chuvas costuma se encerrar no fim de março, com a chegada do
outono. Assim, não precisamos mais nos preocupar com as enchentes que
prejudicam nossos carros, certo? Em parte. Os carros não deverão mais sofrer
com os alagamentos, porém, aqueles que afundaram nas águas estão por aí...
Recuperados, ajeitados e, provavelmente, expostos em uma loja de usados, à
espera de um novo dono que desconheça seu passado. E você, sem saber, pode
levar o mico para casa.
E
o que fazer para não cair em uma roubada como essa? Primeiramente, devemos
saber os tipos de problema que a enchente pode trazer ao carro. O primeiro caso
é quando a água vai apenas até metade da roda. Esse é o menor dano possível.
"Como a água tirou a graxa, terá que trocar o rolamento da roda, pois ele
começa a fazer barulho. O gasto, neste caso, varia entre R$ 400 e R$
4.000", afirma o engenheiro Denis Marun, da oficina Chevy, de São Paulo
(SP).
A
segunda situação é quando a água entrou dentro do carro, na altura da roda.
Assim,
além do rolamento, é preciso fazer a higienização, e seu preço varia de R$ 1.200 a R$ 8 mil. Há ainda
o risco de, em médio ou longo prazo, as partes elétricas começarem a entrar em curto. Essa chance é
maior quando o carro é mais antigo, pois os relês e módulos são vedados por
borracha ou silicone e, com o passar do tempo, essas vedações passam a ficar
mais ressecadas e não seguram mais a água.
O
terceiro e mais grave caso ocorre quando entra água até o teto. "A água
chega à entrada de ar do motor e, caso a pessoa esteja devagar, o motor vai
morrer, pois a água entope a entrada de ar. Ao dar a partida o motor chupa essa
água para dentro dos pistões, o que provoca calço hidráulico, causando o
entortamento da biela e do pistão", afirma o engenheiro. Neste caso, além
dos serviços anteriores, é preciso fazer a retífica do motor. O custo varia de
R$ 3 mil a R$ 20 mil. Vale lembrar que o ideal é não dar a partida em
alagamentos.
Para
identificar se um carro já passou por uma enchente, o engenheiro dá algumas
dicas. O mau cheiro é um sinal, pois a água que penetra no carpete e nas
espumas dos bancos não seca facilmente e o odor de mofo permanece no carro.
Outra boa forma de identificar um carro recuperado é checar se o macaco e a
chave de roda estão enferrujados. Eles são os primeiros a ter esse problema.
Repare ainda se há barulho de rolamento, se há sujeira no freio ou marcas de
água nos faróis. Verifique o óleo do motor e do câmbio. Se estiverem com
aparência leitosa, é sinal de que se misturaram à água. Finalmente, cheque se
toda a parte elétrica está funcionando.
É
claro que não são todos os carros que passam que não podem ser recuperados.
Dependendo do estrago e do serviço feito, eles podem, sim, ter salvação. Um
exemplo é o Peugeot 206 de Lucas Spolidoro. Ele garante que seu carro, que
passou por uma enchente em 2007, foi totalmente recuperado, apesar de a água
ter chegado até o meio dos bancos. "Ficou perfeito depois da higienização
e não deu problemas mecânicos até hoje", conta o proprietário, que ainda
não trocou de automóvel.
O
maior risco é quando o dono arruma apenas o que é superficial e vende o carro
para se livrar dele. A melhor coisa a fazer é evitar a compra, apesar dos
descontos. O problema não aparece na hora da compra, mas depois pode trazer
enormes dores de cabeça para o proprietário.
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