quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Código de Defesa do Consumidor: a percepção dos brasileiros - Bloco 1


24/09/2012 18:17

Pouco mais de duas décadas após ser promulgado, o Código de Defesa do Consumidor precisa de atualização. A opinião é de 72,4% dos cidadãos, das cinco regiões geográficas brasileiras, que participaram de uma sondagem feita pelo Disque-Câmara, serviço telefônico gratuito oferecido à população pela Câmara dos Deputados.

Foram ouvidas mil 175 pessoas entre os dias 6 de maio e primeiro de agosto deste ano. Os entrevistados pedem, principalmente, mais punição para empresas que insistem em desrespeitar o consumidor e menos burocracia na troca de produtos e revisão dos serviços. Uma boa parcela também sugere atendimento mais rápido nos órgãos responsáveis e atualização tecnológica para acompanhamento das reclamações ou facilidade no atendimento presencial.

Mas a pesquisa também revelou que os cidadãos ainda têm muito o que aprender no que diz respeito a usar as leis a seu favor. Embora 62% tenham afirmado que nunca desistem de lutar pelos seus direitos como consumidores, metade dos entrevistados pouco recorreu aos órgãos de defesa do consumidor ou às agências reguladoras. Quase 40% nunca recorreram. Além do excesso de burocracia, os motivos alegados por esses consumidores que participaram da pesquisa foi muito esforço para pouco resultado, como conta Malena Rehbein, do Serviço de Análise de Informações da Câmara.

"Uma coisa interessante também que a gente viu, de maneira geral, é que o órgão mais procurado é o Procon. Fora isso, eles preferem ir direto à Justiça, mas eles não identificam a Delegacia do Consumidor como um órgão onde eles possam conseguir alguma coisa, e nem as agências reguladoras também nesse sentido."

Muito esforço para pouco resultado é, por exemplo, a percepção do empresário Rui da Silva em relação ao Código de Defesa do Consumidor. Ele considera a legislação muito boa, mas sente falta de um poder maior por parte dos órgãos de defesa do consumidor para punir os empresários que desrespeitam os clientes.

"Eu vou te dar o exemplo de uma sanção: Uma loja de eletrodoméstico que tem culpa, não dá assistência, recebe um prazo. Você vai ter três semanas, um mês, 15 dias, sei lá para resolver esse problema. Se nesse período não for resolvido, a tua loja vai ter que ficar fechada durante uma semana, para que doa no bolso do empresário, para ele poder começar a respeitar. E aí, sim, o Código do Consumidor passar a ser reconhecido e válido."

Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Pró-Teste, Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, concorda com Rui da Silva. Para ela, ainda falta fiscalização e punição para quem descumpre a lei.

"Na nossa opinião, na verdade, seria bem mais produtivo fiscalizar o cumprimento do que está na lei e que não é cumprido. Eu diria pra você que muitos setores ainda são resistentes em fazer cumprir o Código de Defesa do Consumidor. Nós temos que aperfeiçoar mais a parte criminal do Código, para que esses setores resistentes realmente deixem de praticar abusividades contra o consumidor."

Já a estudante Eliane Costa Andrade não só acredita no Código de Defesa do Consumidor como sempre recorre aos órgãos competentes para fazer valer seus direitos.

"Todas as vezes deram certo. Você perde um pouco de tempo, claro, mas sempre resolveu. Vale a pena. O importante é ir atrás, não pode é deixar pra lá. Eu sempre vou atrás. Inclusive, meu apelido é rainha do Procon."

Mas a opinião de Eliane é minoria. A pesquisa feita pela Câmara dos Deputados mostrou que 52,3%, dos entrevistados acham o Código de Defesa do Consumidor pouco útil e 23% nunca o utilizaram. Somente 24,8% o consideram muito útil. O resultado pode expressar a entrada no mercado de consumo de novas classes sociais, como explica Maria Inês Dolci, do Pró-Teste.

"O que faz com que o consumidor não conheça de forma aprofundada o Código é que nós temos novas classes sociais. Nós temos as classes D e E, que entraram no mercado de consumo e hoje estão comprando mais, estão adquirindo não só bens, mas contratando serviços, utilizando as instituições financeiras para poder contratar os seus créditos. Hoje se sabe que é muito fácil o oferecimento do crédito no Brasil, porém eles não sabem as consequências. Hoje nós sabemos também por uma pesquisa da Pró-Teste que as famílias brasileiras estão endividadas em pelo menos três dívidas ativas. Então, isso mostra desconhecimento profundo do Código, a aplicação do Código que tem que ser feita de forma severa, enérgica por parte das autoridades, e fiscalização, para que as pessoas comecem a perceber melhor o que estão contratando e as consequências do superendividamento."

As mudanças no Código de Defesa do Consumidor clamadas pela maioria dos entrevistados na pesquisa da Câmara dos Deputados podem chegar logo. Na Câmara e no Senado tramitam quase seiscentas propostas de modificação do CDC. Além disso, uma Comissão de Juristas nomeada pela Presidência do Senado elaborou três anteprojetos de atualização do Código, que são espécies de rascunhos do que podem vir a se tornar projetos de lei. Mas você fica sabendo mais sobre isso amanhã, na segunda reportagem da série sobre Direito do Consumidor.

De Brasília, Marise Lugullo


Nenhum comentário:

Postar um comentário